Folha-de-Flandres é o nome de uma máscara utilizada durante o período da escravidão do Brasil, período manchado pela coerção exercida sobre seres humanos provenientes do continente africano que eram transformados em mercadorias e obrigados a trabalhar para a manutenção da própria vida.O escritor Machado de Assis, em seu conto “Pai contra Mãe”, relata que
a máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Como o vício de beber, perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco e alguma vez o cruel.
Infelizmente, a Folha-de-Flandres do século XVI transcorreu os últimos séculos, chegando até os dias atuais do Brasil através de novas rotulações, mas com o mesmo escopo: manter calada a massa de marginalizados do país.
Hoje, os meios utilizados são diversos, tais como: o Direito, a Ideologia, a Escola, a Televisão, entre outros.
A embriaguez, a “vagabundagem”, a subversão, estas são formas que a elite encontra para ocultar os reais motivos da exclusão de milhões de brasileiros. Ao invés da terra, da educação ou do emprego, impõem-se máscaras sobre as cabeças humanas, privando-lhes do ato de pensar, criticar, transformar.
No entanto, quando com muito esforço a massa de excluídos consegue se livrar da máscara que lhes oprime, surge o Estado com suas peias, chibatas e cacetetes para livrar a população (leia-se: a elite) da ameaça em potencial mediante o derramamento de sangue de milhares em benefício de dezenas.
É, às vezes a ordem social nunca pode ser garantida sem um pouco de crueldade…
Grande Roberto!
Eu gosto de ler teu blog, só ainda não coloquei uma âncora (link) pro meu porque não sei como se faz isso. Você deve ter notado que meu blog é meio “amador” e tudo mais.
Mas mesmo assim fica o registro do meu apreço pelo seu trabalho, e um grande abraço!
Bruno Dantas
Meu amigo, Bruno Dantas!
Como possuo grande admiração por sua pessoa, para mim, é uma enorme satisfação receber sua visita e apreciação.
Não tenho muito tempo para postar em blog… nas últimas semanas, aliás, o meu tempo, que já era escasso, ficou ainda menor.
No entanto, é sempre bom termos um espaço aberto para, momentaneamente, expormos algumas considerações acerca das incongruências políticas, sociais e econômicas da nossa realidade atual.
Sobre a questão de “amadorismo”, aconselho-te a usar o domínio que eu escolhi (wordpress.com).
Você terá muito mais ferramentas para incrementar seu blog.
Um grande abraço, companheiro!
Olá Roberto, estou aguardando mais artigos em seu site, uma das minhas tarefas nessas férias é dá uma lida nos teus artigos todos os dias, que por sinal são excelentes, um grande abraço.
Emanuel.
Belo blog!
A folha-de-flandres, assim como o ato de abrasar o “F” (de Fujão) no rosto dos escravos, e a amputação da orelha dos seres humanos que fujiam à opressão das chibatas e dos grilhões, são práticas que devem ser perpetuamente denunciadas, segundo o princípio da bipolaridade da Teoria Crítica do Direito.
Aliás, o direito é como uma arma de fogo, serve a inúmeras ideologias e a inúmeros senhores, o mais das vezes, realizando os desejos das elites, priorizando a criminalização mais dura, (mais recrudescente a cada ano) contra os delitos patrimoniais. Não se pode adimitir que a pena do furto qualificado seja mais severa do que a pena para o abuso de autoridade, e que em alguns casos o homicídio simples privilegiado.
A pena para o ser humano de pele escura é mais dura, a dosimetria do magistrado nunca é imparcial, assim como a chibata cantava mais forte nos escravos Brasileiros do que nos Escravos Americanos do Norte.
O grande Poeta Souza Cruz era negro, e não o deixaram ser Promotor de Justiça. Ele falava português, latim, italiano e francês perfeitamente, chegou até traduzir as Flores do Mal de Charles Boudelaire. Hoje em dia, mutatis mutandis, o acesso a cargos de poder ainda continua de difícil acesso para o negro. Essa é a complementação da folha-de-flandres. Como diria o outro, santa é a mulher da máscara de ferro Anastácia!
Parabéns pelo Blog, vou procurar acompanhar com mais frequência.
Em tempo:
O conto Machadiano é sombrio, e desvela uma de tantas faces negras do capitalismo, a propriedade humano sobre outro ser humano, e o dilema entre perder um filho e condenar o filho de outra possivelmente a morte. É a sociedade contemporânea, matar ou morrer, sem falar no emprego do Pai (Cândido Neves) que não difere muito dos Policiais que residem nas favelas. É enigmático e sugestivo.
Compreendi tal passagem do Bruxo do Cosme Velho como uma ironia realista, ao gosto de Madame Bovary de Gustav Flaubert, a Dama das Camélias de Alexandre Dumas, em contraposição ao romantismo, tal qual hoje em dia faz o grupo Facção Central. Realidade, rémedio para todos os males. Devaneios, como a ode de de Carlos Drummond de Andrade “ao Bruxo, com amor”, afinal de contas, perguntou Drummond, “além da cocaína moral dos bons livros” o que se há de fazer nos dias asperos? A resposta é, ou poderia ser, reagir, denunciar, dar vida a undécima tese de Marx sobre Fouerbach!
Novamente parabéns pelo blog.